Ramadão no Irão: O que fazer e o que não fazer!
O mês santo do Islão, o Ramadão (em persa Ramazan), é um mês sagrado para os muçulmanos de todo o mundo. Nesta ocasião, os muçulmanos praticantes observam o jejum que é um dos cinco pilares do Islão, além de renovar sua fé através da prática da oração, da generosidade e desapego dos prazeres mundanos. O Ramadão significa trinta dias de autolimpeza, boas acções, doar mais e aproximar-se de Deus. Durante o Ramadão, os muçulmanos jejuam desde o amanhecer (início do nascer-do-sol) até depois dopôr-do-sol e à hora de Iftar (aproximadamente às 20h hora local, menos alguns minutos todos os dias), quando quebram o jejum.
Se estiver a planear uma viagem ao Irão, deve-se informarexactamente quando o Ramadão começa no Irão, uma vez que se trata de uma mês em que o dia-a-dia é totalmente alterada, o que pode complicar as coisas para os turistas e aventureiros. Durante este período no Irão, a maioria dos restaurantes fecham durante o dia para ajudar as pessoas que jejuam, e até mesmo beber água ou fumar nas ruas é mal visto e considerado descuidado. Embora o Ramadão possa parecer um mês difícil para visitar o Irão, o mês sagrado do Islão também pode ser uma altura única e interessante para os visitantes mais curiosos que estejam dispostos a se aventurar e experienciar esta época como um local.
Como os iranianos lidam com o Ramadão?
“O calor sentido nesta Primavera está a matá-la. É apenas a primeira semana do Ramadão, no entanto, ela já está a pensar na morte. Ela corre para um beco aparentemente calmo e vazio, tudo parece perfeito. Sem olhares exigentes à procura de saber o que está a fazer ou o que tem nas mãos: uma sandes fria de frango que ela mal conseguiu comprar de um restaurante próximo. Ela limpa as gotas de suor incómodo que lhe escorrem pela testa abaixo e olhaem sua volta uma última vez. Esta é a sua oportunidade, a sua única oportunidade de encher a barriga com algum sustentoantes de regressar ao escritório. Tudo parece estar a seu favor, mas, de repente, ela repara num carro estacionado. O seu condutor tem o olhar curiosamente fixo nela, com a boca cheia e os olhos esbugalhados como de um peixe se tratasse. Uma pausa embaraçosa preenche o momento entre eles, e de repente, ambos irrompem em gargalhadas ao se aperceberem que são ambos violadores da lei religiosa ao comerem durante o Ramadão.”
Esta é apenas uma descrição caricata de alguns dos comportamentos sociais bastante interessantes que poderá acabar por assistir na sua visita ao Irão durante o mês santo do Ramadão. Embora jejuar e estar numa espécie de greve de fome durante mais de 14 horas por dia durante este mês seja importante para muitos muçulmanos em todo o mundo e eles o levem demasiado a sério, nós, iranianos, somos mais como crentes descontraídos e não nos queremos incomodar muito. E por isso, todos os anos, no início do Ramadão, nos ouvem suspirar: “Lá vamos nós outra vez!”
Como provavelmente sabem, durante o mês santo do Ramadão no Irão, restaurantes tradicionais e defastfood, cafetarias, roulotes de venda de comida, e qualquer pessoa capaz de cozinhar e servir comida quente deverá fechar até à hora da refeição de noite ou Iftar (cerca das 20h20, hora local, recuando alguns minutos todos os dias) e não servir nada, nem mesmo para entrega outake-away. Mesmo assim, alguns hotéis e restaurantes, especialmente aqueles que recebem turistas ou têm hóspedesestrageiros, servem comida quente e até fazem entregas secretamente em sacos de plástico preto para que ninguém possa ver o entregador a entregar a comida ao cliente.
Pratos e doces iranianos únicos servidosdurante o Ramadão
O nono mês do calendário islâmico ainda desempenha um papel excepcional nas nossas tradições, costumes, e não esqueçamos, na ordem dos alimentos em praticamente todos os menus de restaurantes iranianos. Fantásticos guisados, doces caseiros de meter água na boca, tâmaras frescas, queijo tradicional Azari com ervas aromáticas e frutos secos acompanhados com chá são as iguarias que se pode encontrar em qualquer mesa de jantar no Irão durante o Ramadão.
Uma coisa a lembrar é que estas refeições e comidas tradicionais iranianas podem ser encontradas durante todo o ano em alguns restaurantes especiais, mas a sua popularidade aumenta drasticamente durante o mês sagrado. Se viajar para o Irão durante o Ramadão, encontrará mesas longas em frente de quase todas as mercearias, restaurantes, casas de kebab, ou mesmo roladas pelas ruas pelos vendedores ambulantes, cheias de grandes taças de ingredientes e guloseimas especialmente cozinhadas para o Ramadão.
- ZulbiaBamieh(doce típico do Ramadão)
Caso nunca tenha provado estes doces, vai ter uma surpresa. Estes “mini-churros”persas estaladiços são basicamente massa frita mergulhada em xarope de açafrão. Crocantes no exterior, fofos no interior, Bamieh é um dos doces favoritos dos iranianos. Trata-se de uma espécie de “mini-churros”, servido na hora do Iftar, sendo que o mês do Ramadão é uma altura em que as confeitarias aumentam consideravelmente a sua produção. Bamiehsignifica “quiabo” devido ao aspecto, fazendo lembrar pequenos pedacinhos de quiabo frito, geralmente acompanhado de outro doce chamado Zulbia. Daí, ser comum ouvirmos falar da famosa dupla ZulbiaBamieh.
- Halim(papa de trigo com carne)
Se viajar para o Irão durante o Ramadão, vai com certeza sentir o cheiro de trigo acabado de cozer na hora doIftar ou antes do nascer-do-sol. Alguns cozinheiros iranianos ainda preparam oHalim à moda antiga: cozinhandoe mexendo o trigo a lume brando durante 12 horas, e depois, adicionando a carne desfiada,que resulta numa consistência pastosa, misturando os sabores de especiarias, carne, cevada e trigo. Trata-se de uma delícia da culinária persa que todos merecem saborear após um dia inteiro de jejum ou mesmo para oSahari, ao nascer-do-sol, sendo um prato favorito e verdadeiramente tradicional iraniano.
- Ashreshteh(sopa de feijão e ervas com macarrão persa)
Um dos melhores guisados tipicamente persa. Considere este prato,não como um guisado, mas como uma sopa farta que leva vegetais, leguminosas, cebola frita, carne, nozes, feijão, reshte (macarrão persa), e muitos outros ingredientes, algo comparável à Sopa da Pedra portuguesa. Consiste em tudo o que se possa querer comer durante uma semana numa pequena tigela. Onde quer que se encontre um tacho de Halim a cozer em lume brando no Irão durante o Ramadão, é provável que ao lado esteja outro tacho de Ashreshte.
Como é que o Ramadão afecta o turismo no Irão?
Se planeia viajar para o Irão durante o mês santo do Ramadão, há poucas coisas que precisa de saber. Em primeiro lugar, nunca beba ou coma nada enquanto estiver em público, uma vez que pode haver quem não aprecie e poderá tomar isso como uma ofensa. Quase todas as atracções turísticas e pontos turísticos estão abertos durante o dia. Confirme com o seu guia local ou, se tiver um amigo iraniano, não deixe de lhe pedir mais informações. Finalmente, e possivelmente o mais importante é que, devido ao mês sagrado, algumas das atracções turísticas tendem a ter menos visitantese alguns hotéisadoptam preços reduzidos. Isto faz do Ramadão a melhor altura para visitar o Irão.
O Ramadão, que no Irão ocorre no meio da Primavera, significa menos pessoas nas ruas e menos viajantes dispostos a percorrer o país. Além disso, devido ao jejum, as pessoas sentem menos energia no corpo e estão menos interessadas em sair ou passear durante esta altura. Por estas razões, durante o Ramadão, os iranianos tornam-se mais nocturnos e todos saem depois das 20h, tornando as noites ainda mais vivas. Aliás, a vida nocturna dos iranianos é tão vivida que deixa qualquer estrangeiro surpreendido, por isso não perca!
Tradição durante o Ramadão no Irão
A noite do21º dia de Ramadão, conhecido como Shab-e-Qadr (expressão que significa “noite da determinação”, sendo tradicionalmente traduzida como “noite do decreto” ou “noite do destino”), é considerada a noite mais sagrada do mês santo do Ramadão que celebra o começo da revelação do Alcorão ao profeta Muhammad (Maomé) em 610 d.C. na caverna Hira no Monte Jabal al-Nour em Meca, pelo anjo Gabriel(Jibrilem Árabe). Os muçulmanos procuram dedicar esta noite à prática da oração, das súplicas e da recitação completa do Alcorão. É também uma ocasião dedicada ao perdão. Tem lugar nas mesquitas e anuncia o prelúdio da celebração do Eidul-Fitr, que marca o fim do Ramadão.
No entanto, para muçulmanos xiitas, esta noite tem um duplo significado, sendo uma noite de luto assinalado por todo o Irão.Segundo a crença xiita, na noite do 19º dia de Ramadão do ano 661 d.C.,Imã Ali (o primeiro imã xiita, e o quarto califa do Califado de Rashidun para sunitas) terá sido atacado junto aoMihrab enquanto rezava na Grande Mesquita de Cufa, (cidade localizada nas margens do rio Eufrates a cerca de 170 quilómetros ao sul de Bagdad, e 10 quilómetros a nordeste de An-Najaf). Imã Alimorrera ao terceiro dia, ou seja, ao21º dia de Ramadão. Os xiitas acreditam que Imã Ali teve uma percepção e intimidade especiais com Alá nesta noite.
Por conseguinte, o 21º dia de Ramadão é provavelmente uma das datas mais marcantes para quem quiser conhecer os costumes religiosos dos muçulmanos do Irão eassistir ao vivo elaboradas tradições xiitas. Durante este dia, inúmeros grupos religiosos iniciam as suas cerimónias em homenagem ao Imã Ali e lamentamo seu implacável assassinato. Os rituais têm lugar em todo o país, o que torna o mês de Ramadão vivido no Irão ainda mais peculiar e memorável. Milhares de participantes vestidos de pretoconcentram-se e,em sintonia, recitam cantos religiosos e batem os peitos com a palma das mãos, enquanto assistem encenações teatrais, participam na distribuição de comida e sharbats (refrescos) grátis e enchem as ruas de todas as localidades do Irão.