10,000 Anos de Arte e Civilização Iraniana
Pré-história / Idade Antiga
Período islâmico
Era Moderna (Qajar, Pahlavi, República Islâmica)
Irão: uma perspectiva arqueológica
Com base em estudos e pesquisas arqueológicas, o território iraniano tem sido desde os tempos mais recuados o habitat de muitas sociedades humanas e de uma miríade de culturas. As especiais condições geográficas, a localização estratégica e a elevada diversidade climática deste vasto território estão entre os factores fundamentais mais importantes na formação de estruturas sociais, económicas, culturais e na criação de condições de acolhimento e desenvolvimento de comunidades do planalto iraniano. A localização geográfica do planalto iraniano no sudoeste da Ásia converteu esta região num elo entre as culturas e civilizações antigas e ricas do antigo Oriente, explicando-se o papel estratégico do território persa em ao longo de uma longa história feita de altos e baixos.
A proximidade das culturas e civilizações ricas e avançadas da Mesopotâmia, da Ásia Menor e da Transcaucásia, de um lado, e das culturas desenvolvidas do Sindh, do Punjab e da Ásia Central, por outro, determinou o papel histórico país no intercâmbio cultural e no comércio e comunicação entre diferentes regiões.
Entretanto, a riqueza natural desta terra e o facto de as comunidades residentes no planalto iraniano terem tirado partido do meio e riquezas naturais, fez com que, mediante inovações industriais e tecnológicas, o Irão se convertesse num dos principais berços da cultura e civilização humanas.
Não obstante a escassez de recursos hídricos, outros recursos naturais e a posição estratégica do planalto iraniano facilitaram o florescimento de sociedades elaboradas que accionaram relevantes dinâmicas políticas, económicas, sociais e religiosas.
Com tais características, o mundo iraniano e a projecção do Irão do mundo como conceito histórico-cultural e político desenvolvido, desempenhou um papel fundamental determinante na história sociopolítica do mundo Antigo.
Achados arqueológicos e documentos confirmam a presença de comunidades humanas no planalto iraniano desde o período Paleolítico, há cerca de um milhão de anos. Artefatos e ferramentas de pedra desse período foram descobertos em diferentes partes do Irão, incluindo cavernas e abrigos nas encostas das cordilheiras Alborz e Zagros, assim como nas regiões sul e sudeste.
Recorrendo à mineração e às condições naturais proporcionadas pelo planalto Iraniano, as comunidades fixadas neste território socorreram-se do engenho e da criatividade, inventando e utilizando técnicas na exploração dos recursos e conseguindo alcançar importantes conquistas tecnológicas, sobretudo na difusão de tecnologias industriais, especialmente na cerâmica, na metalurgia e na produção de ligas metálicas.
Devido à sua localização geográfica singular, o território persa esteve exposto desde os tempos pré-históricos a movimentos, migrações e invasões por diversos grupos étnicos e culturas. Uma das migrações étnicas e culturais mais decisivas coincidiu com o início da Idade do Ferro, na segunda metade do segundo milénio a.C., durante a qual, durante vários séculos, uma nova cultura penetrou e assentou no planalto iraniano, especialmente na metade ocidental e no Irão Central.
A chegada desta nova cultura, a formação dos primeiros Estados e subsequente formação dos primeiros impérios, provocou mudanças profundas em todas as estruturas culturais, sociais, políticas e religiosas do Irão, resultando num impacto visível na forma de distribuição do poder político e nas relações sociais e económicas da Ásia Ocidental e da maior parte do mundo Antigo pré-Clássico.
Os desenvolvimentos ocorridos neste período são, pois, matriciais para o entendimento da formação da cultura iraniana no seu significado mais específico; a saber, o de uma cultura cuja característica dominante ao longo da história tem sido o da incorporação das conquistas culturais de diferentes povos e da sua adopção e adaptação de acordo com os fundamentos intelectuais e sociais iranianos. Esta característica é um dos factores mais importantes e que permite compreender a continuidade e a diversidade cultural deste território, de que tantas relíquias culturais deixadas dos períodos pré-históricos, históricos e islâmico são eloquentes testemunhos.
Infelizmente, em comparação com o aprofundado conhecimento hoje já existente sobre a Europa e África, o processo de desenvolvimento da arte na época pré-histórica iraniana não é tão conhecido como seria de esperar, devendo-se tal lacuna à falta de campanhas arqueológicas e estudos da história da arte desse período. Contudo, o que tem sido resgatado através de campanhas arqueológicas permite determinar que o estilo de arte predominante nas sociedades pré-históricas do planalto iraniano é marcadamente de feição geometrizante. As manifestações objectivas mais antigas deste estilo, quer sob a forma de pintura, quer de pequenas estátuas, foram realizadas no período Neolítico. Nesta breve secção, facultamos informação sobre a cultura e civilização persa resultante de escavações arqueológicas realizadas em toda a geografia iraniana.
Arjān
Em 1982, durante a construção de uma estrada que conduz a uma barragem no rio Mārun, foi encontrado um túmulo contendo um caixão em bronze em formato de “U”. O túmulo está localizado perto das ruínas da cidade medieval de Arrajān (Arjān), situada nas proximidades da moderna Behbahan, na fronteira oriental da província do Khuzistão, no sudoeste do Irão. O arqueólogo responsável concluiu tratar-se de um túmulo remontando ao período Neo-Elamita.
De concepção simples em pedra, este túmulo incluía valiosos objectos, pelo que ficou conhecido como o “Tesouro de Arjan”.
Quatro objectos únicos achados no túmulo – um anel, um candelabro, uma grande tigela e um vaso de prata – gravados com inscrições cuneiformes Neo-Elamitas tardias, indicavam ser Kidin Hotran, filho de Kurlush, o ocupante que ali jazia. Pedaços de um pano floral e de botões dourados são outras das peças que constituem este valioso acervo. Kidin Hotran era um dos governantes locais por volta de 750 a.C., sendo que a área submetida à sua autoridade situar-se-ia a norte de Behbahan e Arjan.
Baba Jan
Bābā Jān Tepe (Tappa), sítio arqueológico no nordeste da província do Luristão, no extremo sul da planície Delfān, a cerca de 10 km de Nūrābād. Os achados desta área datam dos períodos históricos e pré-históricos.
A escavação arqueológica em Baba Jan foi realizada, no final da década 1960 por Clare Goff Meade, do Instituto de Arqueologia da University College London (UCL), com o apoio do Instituto Britânico de Estudos Persas. Na colina central, a arqueóloga encontrou valiosos artefactos arquitectónicos que remontam à Idade do Bronze Média e que incluía um edifício com áreas auxiliares que tinham sido contínua e repetidamente reconstruídas durante um longo período durante.
Bastam
Perto da cidade de Mako, na província do Azerbaijão Ocidental, entre as aldeias de Ziauddin e Shahabad, existe o antigo povoado de Urartu que remonta ao século VIII a.C. e conhecido por cidadela de Bastam. Durante as prolongadas escavações desta zona, para além de se encontrarem obras arquitectónicas importantes, especialmente reveladoras das técnicas de construção da cidadela, foram postos a descoberto muitos artefactos e objectos, todos pertencentes à cultura urartiana dos séculos VII e VIII a.C.
A antiga cidadela de Bastam engloba a base e cidadela central urartiana no noroeste do planalto iraniano e reveste-se de extrema importância, não somente pelo estilo arquitectónico, mas também pelos inúmeros objectos com escrita cuneiforme urartiana ali achados.
Choga Mish
Chogha Mish é uma das aldeias mais antigas da província do Khuzistão, localizada a sul de Dezful e no centro de uma vasta planície. A colina foi escavada pelo Departamento de Arqueologia da Universidade de Chicago, sob a supervisão de Helene J. Kantor e Pinhas Delougaz (1964-78).
Chogha Mish inclui escombros arquitectónicos do período entre o Epipaleolítico e Neolítico, que terminou em meados do quinto milénio a.C. Durante este período, foram erigidos em Chagha Mish inúmeros monumentos reservados a muitas finalidades, incluindo funções administrativas, religiosas, económicas e industriais. O assentamento em Chagha Mish continuou até ao período Parta.
Teppe Hasanlu ou Tappeh Hassanlu (Colina de Hasanlou)
Hasanlou situa-se no noroeste do Irão a cerca de 50 quilómetros a sudoeste do Lago Urmia, no vale Sulduz Naghadeh. As escavações mais importantes em Hasanlou foram realizadas entre 1956ea 1974 sob a supervisão de Robert Harris Dyson, da Universidade da Pensilvânia e em parceria com o Museu Arqueológico Iraniano e com o Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque. As povoações mais antigas da Colina de Hasanlu remontam ao 6º milénio a.C., e as mais recentes ao primeiro milénio a.C. (Idade do Bronze).
Shush
Trata-se de artefactos encontrados numa colina localizada perto da actual cidade de Shush. A região de Khuzistão e a planície de Shushan foram exploradas desde meados do século XIX por arqueólogos franceses, nomeadamente Jean-Jacques de Morgan, Marcel Dieulafoy, Roman Ghirshman e Jean Perrot, e após a Revolução, pelo arqueólogo iraniano, Mirabedin Kaboli.
Durante o período elamita médio, Shush foi uma das duas capitais importantes da cultura e civilização de Elão nos campos económico, comercial e político. Desde o período do início da adopção da agricultura até à Idade Antiga e Período Islâmico, a planície de Khuzistão foi sempre um dos mais importantes pólos culturais, económicos e políticos iranianos, devido às condições e características geográficas e ambientais especiais, pela sua localização estratégica, assim como e por possuir bons solos sedimentares e os mais importantes recursos hídricos e rios permanentes.
Shahr-e Sukhteh
Shahr-e Sukhteh significa “[A] Cidade Queimada” e situa-se a 56 quilómetros de Zabol, junto à estrada que liga Zabol a Zahedan (na província de Sistan e Baluquistão). A região é considerada um dos centros mais importantes da Idade do Bronze no sudeste do Irão. Mais de metade da superfície desta antiga cidade está repleta de vestígios de metais, vasos em pedra, pedras preciosas e cerâmica.
Durante o seu período de ouro, esta cidade foi um dos importantes centros industriais, importando matérias-primas (pedras preciosas, lápis-lazúli) para as converter em artigos de consumo e decorativos, destinadas exportação para terras distantes. A população de Shahr-e Sukhteh atingiu mais de 5.000 pessoas, sendo uma das cidades mais populosas da Idade do Bronze. A cidade foi destruída no início do segundo milénio a.C.
Teppe Sialk (Colina de Sialk)
A Colina de Sialk, situada no sudoeste de Kashan e no extremo ocidental do deserto central do Irão, inclui duas áreas residenciais e dois cemitérios pré-históricos.
A Colina de Sialk foi pela primeira vez escavada no Outono de 1923por uma equipa chefiada por Roman Ghirshman, que concentrou os trabalhos na encosta sul da colina. De acordo com as descobertas de Ghirshman, as primeiras estruturas encontradas em Silak eram provavelmente casas de tijolos de argila.
Luristão, Poshtkooh e Pishkooh (Ilam)
Em termos arqueológicos, a província do Luristão é, sobretudo, conhecida pela cultura que produziu os objectos conhecidos como Bronzes do Luristão.
As escavações científicas na região de revelam que devido às condições ambientais favoráveis, terá sido considerada desde o período do Paleolítico Inferior como uma região de eleição por diversos povos. As escavações levadas a cabo por Peder Mortensen no Vale Holeylan, especialmente nas Colinas de Guran, revelaram a existência de povoados desta a esta cultura desde o início ocupação humana desta região.
Cemitério de Mārlik
Marlik (Cheragh-Ali Tepe) está localizada em Rostamabad, no município de Rudbar, na província de Gilan.
Escavações levadas a cabo nesta região demonstram que cronologicamente o cemitério de Mārlik remonta a 1000 e 1300 a.C. e pertence às culturas da Idade do Bronze que povoaram as regiões do norte do país.
Takht-e Jamshid (Persépolis)
Pars era o principal território do Reino de Parsa no sudoeste do Irão contemporâneo. Os Persas, cuja etnia é conhecida como ariana, estabeleceram um governo fundado por Ciro nesta região no (início do) século VI a.C., e cujas estruturas sociais, económicas, políticas e culturais se tornaram modelo para os governos do Antigo Oriente. A arte aqueménida é de corte civil e religiosa, incluindo obras arquitectónicas significativas, assim como decorações, litografias e outras expressões artísticas de relevância que exprimem o brilhante estilo alcançado, nomeadamente em Susa, Pasárgada, Persépolis e Ecbátana, consideradas as capitais deste período dinástico. Uma das características desta arte é a de ter recebido influência das artes dos povos integrantes neste grande império, combinando-as com conceitos da arte nativa persa, de cuja síntese resultou uma nova arte que sugere uma aparência diferente da arte indígena, mas que contém a essência e o espírito da arte iraniana.
As escavações científicas na região de Persépolis foram iniciadas em 1930 pelo Instituto Científico de Persépolis, que foi estabelecido com a permissão do governo iraniano e do Instituto Oriental da Universidade de Chicago.
Guran Teppe (Colina de Guran)
Uma equipa dinamarquesa de arqueólogos liderada por Jørgen Meldgaard que investigava a região ocidental do Irão em 1963, também escavou a Colina de Guran. Os trabalhos prosseguiam em dois pontos da colina que remontava ao Neolítico e à Idade do Bronze. Estes trabalhos levaram à descoberta na Colina do Guran das primeiras aldeias onde os agricultores se haviam estabelecido, datando tal ocupação entre 5500 e 6500 a.C. Durante a escavação das sepulturas da Idade do Bronze, para além de objectos em bronze e ferro, foram também recuperados vários recipientes de cerâmica. A descoberta destes objectos foi de grande utilidade para a datação e determinação da origem dos habitantes de Luristão. A olaria encontrada na Colina de Guran, que remonta à Idade do Bronze, é comparável à das colinas de Giyan 3 e Kaftarlan 2.
Sassânida
A arte de trabalhar metais, especialmente a ourivesaria, atingiu o seu ponto alto durante a Era Sassânida. Foram descobertos vasos de prata sassânidas na Ásia Central, nas montanhas Aral da Ucrânia e do Cáucaso, e estão integrados nas colecções do Museu Hermitage e de alguns museus americanos e europeus, assim como em colecções privadas.
Era Islâmica
Os mais importantes e maiores centros culturais-industriais durante os primeiros séculos do Islão (entre séculos VII e X d.C.) simultaneamente com o governo central dos califas Omíadas e Abássidas, bem como as dinastias persas Taeriana, Samânida, Gharnavida e Buída nas cidades de Susa, Neishabur, Istakhr, Siraf, Gorgan e Rey, cada uma de acordo com as suas capacidades culturais-económicas e climáticas, eram conhecidas como centros de produção de várias realizações artístico-industriais. Com a chegada ao poder dos Seljúcidas no quinto século A.H. e a aceitação da cultura e civilização iraniana pelos turcos Seljúcidas, surgiu um ponto de viragem na vida sociopolítica do Irão. Os Seljúcidas fizeram uso significativo das experiências técnicas e artísticas do período Buída para desenvolver e formar a arte islâmica. A arte da cerâmica, do vidro soprado, da metalurgia e da tecelagem têxtil atingiu o seu auge em centros como Rey, Kashan e Gorgan. A cidade de Rey, por exemplo, tornou-se famosa por um tipo de olaria conhecida como esmaltes com uma variedade de temas decorativos inspirados em histórias épicas e de amor iranianas.
O período desde a invasão mongol do Irão, no início do século XIII d.C., até ao reinado de Ghazan Khan poderá ser considerado o período de estagnação artística no Irão, uma vez que muitos centros artísticos industriais foram destruídos ou perderam a sua importância na consequência deste ataque.
Mas a partir deste período, durante a governança do Ilcanato, devido a mudanças socioeconómicas, assistiu-se a um renascimento na arte islâmica do Irão. Nesta altura, a melhor e mais bela cerâmica foi produzida em Kashan com a técnica conhecida como zarrin-fām e zarandood (azulejo de sete cores ou de esmalte) e também os mais belos azulejos usados nos nichos de oração (Mihrab) nas mesquitas foram inspirados pelas tendências religiosas. Além disso, Khajeh Rashid al-din Fazlullah, o ministro iraniano e autor da compilação de crónicas chamada “Jāmiʿ al-Tawārīkh”, criou uma biblioteca, e nestes centros foi dada especial importância à arte do fabrico de livros, e assim, foram preparados magníficos livros ilustrados.
Com a formação da dinastia Timúrida no final do século XIV e início do século XVI d.C., Samarkand, a capital de Timur, tornou-se um dos maiores centros de arte e um local de encontro de artistas. Os filhos de Timur foram também incentivadores da indústria e da arte, e assim Herat tornou-se um centro de arte durante o reinado de Shahrukh.
Quando os Safávidas chegaram ao poder, o centro de arte foi transferido de Herat para Tabriz e Qazvin e depois para Isfahan. Uma das características deste período é a formação da Escola de Arte Isfahan, que era um estilo completamente iraniano e era diferente das escolas de arte Timurid e Ilcanato. As cidades de Isfahan, Kashan, Yazd, Tabriz, Mashhad, Shiraz e Herat são consideradas como os principais centros de obras artístico-industriais neste período. Por exemplo, vários têxteis bordados, veludo, Kalamkari, Termeh e Artesanato de Caxemira, assim como tapetes com variedade de padrões de desenhos e composição, especialmente tapetes em que os quatro cantos repetem os motivos do medalhão central, representações de vasos, jardins, animais, tapete de oração típicos de Tabriz, Kashan, Yazd, Isfahan, conhecidos por todo o mundo.
A pintura a óleo coincidiu com o fim da era dourada da pintura em miniatura neste período, e com este método de pintura foram preparadas obras muito requintadas, tais como caixas de canetas, molduras de espelhos, capas e belas portas. Também foram produzidas obras metálicas requintadas nas oficinas do Irão ocidental e Isfahan com métodos decorativos de gravura e treliças. A arte de decoração de livros, como nas épocas Ilcanato e Timúrida, continuou e floresceu nos campos da caligrafia, do fabrico de capas e do manuscrito Iluminado.
Após o declínio e queda da dinastia Safávida e a fundação das dinastias Zand e Afsharida e especialmente da dinastia Qajar, houve mudanças na maioria das artes iranianas ao longo do tempo. Uma das principais razões pode ser referida como a influência da arte ocidental. Portanto, com um breve olhar sobre a arte deste período, podemos detectar que os estilos da arte Safávida em campos diferentes, da mesma forma, mas por vezes com menos elegância do que no período anterior, continuaram.
Excelente