Património Documental e Escrito Sobre a Memória do Mundo
Registo da Memória do Mundo; Patrimonio Documental e Escrito Sobre a Memoria do Mundo
O Programa Memória do Mundo é um compêndio de documentos, manuscritos, tradições orais, materiais audiovisuais, biblioteca, e acervo de arquivo de valor universal. A Memória do Mundo é a memória coletiva e documentada dos povos do mundo, representando grande parte do património cultural mundial.
Criada em 1992, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) implementou um programa de memória a nível mundial, com o objectivo de identificar, proteger e promover o património documental e arquivos mundiais que venham a compor o património histórico da humanidade, através da conservação e do acesso aos documentos, na sequência de uma maior consciência dos perigos que ameaçam o património mundial. De acordo com a UNESCO, a organização pretende “salvaguardar o património documental da humanidade de amnésia coletiva, negligência, danos do tempo e condições climáticas e destruição proposital ou deliberada”, evitando a deterioração, dispersão, comércio ilegal e destruição do património documental mundial através da implementação do programa. A organização consta que estes perigos ameaçadores existem há séculos, mas as guerras, a agitação social e a falta de financiamento têm-se intensificado.
O Programa de Registo da Memória do Mundo (MoW, sigla em inglês) selecciona o património documental que foi recomendado pelo Comité Consultivo Internacional (CCI), e aprovado pelo Director-Geral da UNESCO, como correspondendo aos critérios de selecção relativos ao significado mundial e ao valor universal excepcional. De dois em dois anos, cada país pode submeter duas obras à UNESCO para registo no Memória do Mundo. As inscrições conjuntas por mais de dois países estão isentas desta limitação.
Após o necessário exame pela UNESCO e o registo dos seus efeitos de protecção sob a jurisdição do Estado em questão, será da responsabilidade de todos os Estados-membros e o poder financeiro e profissional dos Estados-membros em garantir a sua protecção.
Irão (República Islâmica do) memória do mundo
A nível nacional, em 2006, catorze anos após o estabelecimento do Programa da Memória do Mundo da UNESCO, foi constituído o Comité Nacional do Programa da Memória do Mundo da UNESCO. Em 2014, foi constituído o Secretariado do Comité na Biblioteca Nacional e Arquivos do Irão (NLAI) e o Chefe da Organização foi nomeado como presidente do Comité.
O Comité Iraniano para a MoW está a funcionar sob os auspícios da Comissão Nacional Iraniana para a UNESCO e conta com a presença de directores de vários importantes centros do património documental em todo o país. Com base no seu Regulamento Interno, o Comité tem actualmente 13 membros, oito dos quais são chefes de bibliotecas e arquivos, e outros cinco membros são escolhidos com base no seu conhecimento e experiência na área e na sua capacidade de contribuir para a realização dos objectivos do Programa. Os membros do Comité reúnem-se mensalmente para decidir sobre as actividades do Comité, com o intuito de desenvolver os objectivos do Programa no Irão. Desde o início do Programa, já foram realizadas mais de 120 reuniões.
Em 2007, pela primeira vez, dois documentários Iranianos, Bayasonghori Shahnameh (manuscrito do Shahnameh de Ferdowsi feito para o príncipe Baysonghor) da Biblioteca Imperial do Palácio de Golestan e a escritura da dotação para o complexo académico Rab-i Rashīdi da Biblioteca Central de Tabriz foram inscritos no Registo Internacional da Memória do Mundo. Nos anos seguintes, o Irão conseguiu registar mais oito do seu património documental no MoW, o último foi Jāme’ al-Tavarikh (Compêndio de Crónicas), que inscreveu em 2017. O Irão também inscreveu mais de 50 bens de património documental no programa nacional e seis no Comité Regional do Programa Memória do Mundo da UNESCO para a Ásia-Pacífico (MOWCAP).
O Irão tem 10 bens inscritos:
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- Bayasanghori Shâhnâmeh – Livro dos Reis feito para Príncipe Bayasanghor (2007)
- Escritura da dotação para o complexo académico Rab’ i-Rashidi (2007)
- Documentos administrativos de Astan-e Quds Razavi na Era Safávida (2009)
- Al-Tafhim li Awa’il Sana’at al-Tanjim – Introdução do Ensino da Astronomia (2011)
- Colecção Panj Ganj – As Cinco Joias de Nezami (2011)
- Colecção de mapas seleccionados do Irão na Era Qajar (2013)
- Dhakhīra-yi Khārazmshāhī – Tesouro do Rei Khwarazm (2013)
- Al-Masaalik Wa Al-Mamaalik – Livro dos Caminhos e Reinos (2015)
- Kulliyyāt-i Saʽdi – Compêndio das obras de Saʽdi (2015)
- Jāme’ al-Tavarikh – Compêndio de Crónicas (2017)
Segue-se uma breve revisão da herança documental Iraniana inscrita no Programa Memória do Mundo da UNESCO até ao final de 2019. Para mais informações, consulte aqui a Lista de bens inscritos no Programa Memória do Mundo.
- Bayasanghori Shâhnâmeh (Livro dos Reis feito para Príncipe Bayasanghor)
Património documental apresentado pela República Islâmica do Irão e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2007.
Abolghassem Mansour-ibn-Hassan Firdausi Tousi (Ferdowsi) era uma figura proeminente da poesia Iraniana e o seu poeta nacional. Nasceu na cidade Iraniana de Tous em 941 e morreu em 1020 d.C. (329 – 410 do calendário lunar), dez anos depois de ter terminado a sua grande obra épica, o Shâhnâmeh (Livro dos Reis). Este é um dos clássicos da língua Persa com expressão universal e está a par da Ilíada para o mundo Grego e da Eneida para a civilização latina. Uma característica importante desta obra é que, embora durante o período da sua criação o Árabe fosse a principal língua da ciência e da literatura, Ferdowsi utilizou exclusivamente a língua Persa e, por conseguinte, ajudou a recuperar e preservar esta importante língua mundial. Hoje em dia o Persa é falado por mais de 65 milhões de pessoas na República Islâmica do Irão, no Afeganistão, noTajiquistão, no Paquistão e nas comunidades da diáspora.
O Shâhnâmeh tornou-se também um texto importante em toda a Ásia Central, Índia e no antigo Império Otomano. Foi copiado inúmeras vezes e pode-se dizer que três destas cópias têm valor universal: o Grande Shâhnâmeh Ilcânida, feito no início do século XIII para o patrono Ilcânida, Giyath al-Din; o Shâhnâmeh de Houghton do século XVI; e o Bayasanghori Shâhnâmeh (Livro dos Reis de Bayasanghor), feito em 1430 d.C. para o príncipe Timúrida Bayasanghor Mizra (1399-1433 d.C.), neto do lendário líder da Ásia Central Tamerlão (1336-1405 d.C.).
– Ano de apresentação: 2007
– Ano de inscrição: 2007
– País: Irão (República Islâmica)
Foto: © Palácio Golestan, o encontro de Ardeshir com Golnar, a escrava e tesoureira de Ardavan
- Escritura da dotação para o complexo académico Rab’ i-Rashidi (manuscrito do século XIII)
Património documental apresentado pela República Islâmica do Irão e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2007.
Tabriz, cidade localizada a cerca de 600 quilómetros a noroeste da de Teerão, foi no seu apogeu há 700 anos, a capital da dinastia Mongol do Ilcanato e um centro intelectual e cultural regional sob Il-Khan Mahmud Ghazan (1295-1304 d.C.). O wazir (vizir) de Ghazan Khan, ou Chanceler, Khajeh Rashid al-Din Fazlollah Hamadani, foi um brilhante médico e matemático, autor da monumental história da língua Persa, Jami al-Tawarikh, e fundador de um complexo académico conhecido como o Rab’ i-Rashidi, ou Subúrbio de Rashid, na periferia de Tabriz. Este integrava uma fábrica de papel, biblioteca, hospital de ensino, orfanato, caravanserai, fábrica de têxteis, escola de formação de professores e seminário que atraía estudantes e eruditos vindos de tão longe como a China. O objectivo desta dotação, ou waqf, era a de assegurar que tantos os tratados científicos de autoria de Rashid al-Din, ou que caíam na sua posse, pudessem ser copiados como protecção contra a destruição.
O documento a submeter ao Registo Mundial da Memória é a Escritura de Dotação do Rab’ i-Rashidi, e detalha a justificação do complexo, o sistema de gestão, a administração e o orçamento das propriedades doadas, que incluía terras no actual Afeganistão, Ásia Menor, Azerbaijão, Geórgia, República Islâmica do Irão, Iraque e Síria.
– Ano de apresentação: 2007
– Ano de inscrição: 2007
– País: Irão (República Islâmica)
© Biblioteca Central de Tabriz, a capa em pele do manuscrito do Rab i-Rashidi
- Documentos administrativos de Astan-e Quds Razavi da Era Safávida
Património documental apresentado pela República Islâmica do Irão e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2009.
Esta colecção consiste em 69.000 páginas que abrangem o período 1589-1735 d.C. (1000-1148 no calendário lunar) e referem-se a uma vasta área geográfica, incluindo a República Islâmica do Irão, especialmente a província de Khorasan, bem como o Afeganistão. Contém informações sobre questões administrativas, sociais, económicas, agrícolas, obras de caridade, obras religiosas e outras que proporcionam ao leitor uma imagem do Mashhad na província de Khorasan, bem como o estatuto da vida social durante o período Safávida.
– Ano de apresentação: 2008
– Ano de inscrição: 2009
– País: Irão (República Islâmica)
Foto: © Centro Nacional de Documentos e História Diplomática (CNDHD), documentos administrativos de Astan-e Quds Razavi da Era Sáfavida
- Al-Tafhim li Awa’il Sana’at al-Tanjim
Património documental apresentado pela República Islâmica do Irão e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2011.
Al-Tafhim li Awa’il Sana’at al-Tanjim (Introdução do Ensino da Astronomia) é uma obra em língua Persa da autoria do famoso cientista Iraniano abu-Rayhan al-Biruni (440-362 no calendário lunar, 973-1048 no calendário Gregoriano) contendo perguntas e respostas num formato facilmente compreensível para os novos aprendizes de ciências. Este é o mais antigo texto Persa sobre Matemática e Astrologia e foi composto simultaneamente em Persa e Árabe pelo próprio abu-Rayhan. Foi escrito quando cientistas e eruditos Iranianos utilizavam o Árabe para escrever os seus trabalhos científicos. Ao compor o seu livro em Persa, o abu-Rayhan contribuiu para a vivificação da obra científica Persa.
– Ano de apresentação: 2010
– Ano de inscrição: 2011
– País: Irão (República Islâmica)
© Biblioteca, Museu e Arquivos da Assembleia Consultiva Islâmica, uma folha do manuscrito
- Colecção Panj Ganj de Nezami
Património documental apresentado pela República Islâmica do Irão e recomendado para inclusão no Registo da Memória do Mundo em 2011.
Panj Ganj ou Khamseh (As Cinco Joias) consiste em cinco manuscritos separados em língua Persa, todos reunidos num único volume. Estas secções são todas versificadas sob a forma de poemas longos com dísticos rimados, ou Mathnavi, tal como expresso na língua Persa. Khamseh relata as histórias românticas mais celebradas, delicadas e antigas da língua Persa.
– Ano de apresentação: 2010
– Ano de inscrição: 2011
– País: Irão (República Islâmica)
© Biblioteca Sepahsalar (Shahid Mottahri), primeiro manuscrito
- Colecção de mapas seleccionados do Irão na Era Qajar (1193-1344 A.H. / 1779-1926 d.C.)
Património documental apresentado pela República Islâmica do Irão e recomendado para inclusão no Registo da Memória do Mundo em 2013.
A colecção inclui 500 páginas de mapas únicos manuscritos e litografados relacionados com a era Qajar no Irão. Embora a preparação de mapas geográficos no Irão remonte ao século III no calendário lunar (século IX no calendário Gregoriano), a aplicação de escalas cartográficas exactas no Irão foi iniciada no século XIII do calendário lunar (século XVIII do calendário Gregoriano), após o estabelecimento de Darolfonon (escola politécnica) o primeiro centro de ensino superior no Irão. Os mapas fornecem informações sobre linhas de fronteira, impactos de desastres naturais e humanos nas fronteiras, e nomes de lugares geográficos, alguns dos quais, ou deixaram de existir, ou foram renomeados.
– Ano de apresentação: 2012
– Ano de inscrição: 2013
– País: Irão (República Islâmica)
Foto: © Centro Nacional de Documentos e História Diplomática (CNDHD), Mapa do Caminho do Telégrafo de Basra à Índia (Entre a Ilha Bushehr e Bandar-e-Abbas). Por: Coronel Tamson. Dimensões: 19×29,5 cm.
Foto: © Centro Nacional de Documentos e História Diplomática (CNDHD), Fronteiras de Damavand e Ivanaki (Partes Sul e Central da Cordilheira Alborz). Por: Abdurrazaq Boqayeri. 1911. Dimensão: 81×122,5 cm.
- Dhakhīra-yi Khārazmshāhī
Património documental apresentado em conjunto pela República Islâmica do Irão e Alemanha e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2013.
Dhakhīra-yi Khārazmshāhī ou Zakhireh Khwarazmshahi (O Tesouro do Rei Khwarazm), o primeiro e mais importante tratado médico escrito em língua Persa, conjunto de onze volumes da autoria de de Esmaeil Jorjani em 504 no calendário lunar (1110 no calendário Gregoriano). Durante séculos, o Zakhīra foi utilizado como fonte da educação médica, servindo como base de muitos livros sobre Medicina. O tratado, que foi traduzido em árabe pelo seu autor, foi de grande utilidade no Irão, Ásia Central, Índia e no Império Otomano, mas também conheceu traduções para o Urdu, o Turco e o Hebraico, transformando-se em obra do maior significado para outras nações.
– Ano de apresentação: 2012
– Ano de inscrição: 2013
– País: Irão (República Islâmica)
© Biblioteca e Arquivo Nacional do Irão, Zakhireh Khwarazmshahi
- Al-Masaalik Wa Al-Mamaalik
Património documental apresentado em conjunto pela República Islâmica do Irão e Alemanha e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2015.
Al-Masaalik Wa Al-Mamaalik (Livro dos Caminhos e Reinos) é um dos mais importantes livros geográficos do século IV do calendário lunar (século X do calendário Gregoriano) e apresenta uma descrição precisa das condições socioeconómicas, culturais e políticas das terras Islâmicas de então – desde da Índia à África – complementada por mapas.
– Ano de apresentação: 2014
– Ano de inscrição: 2015
– País: Irão (República Islâmica) e Alemanha
© Museu Nacional do Irão, Al-Masaalik Wa Al-Mamaalik
- Kulliyyāt-i Saʽdi
Património documental apresentado em conjunto pela República Islâmica do Irão e Alemanha e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2015.
O Compêndio das Obras de Saʽdi conhecido como Kulliyyāt é um tesouro de sabedoria e um paradigma de conhecimento. No domínio da poesia e literatura Persa Saʽdi tem ocupado lugar cimeiro entre os oradores mais articulados e eloquentes. Durante oito séculos, as suas parábolas, máximas, exemplos e poemas fizeram eco dos ditados e sabedoria mais populares; as suas perspectivas iluminaram, e continuam a iluminar, o mais erudito dos intelectuais.
– Ano de apresentação: 2014
– Ano de inscrição: 2015
– País: Irão (República Islâmica) e Alemanha
© Biblioteca Nacional e Arquivos do IR do Irão
Introdução do compilador Bisutūn com epígrafe decorativa sobreposta com Azure e Ouro no início do manuscrito
- Jāme’ al-Tavarikh
Património documental apresentado em conjunto pela República Islâmica do Irão e Alemanha e recomendado para inclusão no Registo Mundial de Memórias em 2017.
Jami al-Tavarikh (Compêndio de Crónicas), obra de literatura e história da língua Persa produzida no período do Ilcanato, durante o reinado de Il-Khan Mahmud Ghazan (1295-1304), escrito por Rašid-al-Din Fażl-Allāh Ṭabib Hamadāni (1247-1318), o wazir (vizir) ou Chanceler de Ghazan Khan, inclui a história dos profetas (de Adão ao Profeta do Islão), a história do Islão até aos Abássidas, a história do antigo Irão até ao tempo do autor, bem como a história de vários países como a China, Índia, (Indo e Caxemira), terras Europeias e papas Cristãos que foram escritas com base nas fontes disponíveis ao autor. Rashid al-Din foi o fundador da nova historiografia Persa na Idade Média. O seu método de historiografia pode ser comparado com a historiografia europeia que depois se revelaria no Renascimento. A secção mais importante do livro é relaciona-se com a história dos Mongóis e da governação Ilcânida do Irão. Dois preciosos manuscritos deste livro foram apresentados neste ficheiro de nomeações. O primeiro manuscrito foi escrito em 1004 no calendário lunar (1595 no calendário Gregoriano) em 305 fólios. O segundo manuscrito foi copiado em 1074 do calendário lunar (1665 no calendário Gregoriano). Ambos integram as colecções da Biblioteca Real do Irão e desfrutam de características artísticas inigualáveis.
– Ano de apresentação: 2016
– Ano de inscrição: 2017
– País: Irão (República Islâmica)
© Bibliothèque Nationale de France e Metropolitan Museum of Art
“A conversão de Ghazan Khan ao Islão”, manuscrito Timúrida, BNF, Suplemento Persa 1113, c. 1430 d.C.
E da Colecção Jame’i al-Tavarikh, Khalili – MMA; Montanhas entre o Tibete e a Índia (MAA 727), do Jame’i al-Tavarikh (Compêndio de Crónicas), 714 A.H. / 1314-15 d.C. Rashid al-Din
E “Jonas e a Baleia”, fólio do Jame’i al-Tavarikh (Compêndio de Crónicas) ca. 1400